Bruno Ribeiro

10 Anos sem Divine. Conheça o prédio antes de ser demolido e relembre um pouco da história dessa boate que marcou duas gerações

Em 28 de Janeiro de 2000, há quase 25 anos atrás, Fortaleza, a capital do Ceará ganhava um espaço democrático de lazer e convivência LGBTQIAPN+, e um palco e celeiro de grandes artistas, que brilham na cena local, nacional e internacional até hoje, a Boate Divine era inaugurada trazendo o glamour da arte drag e transformista para o Centro da capital.
Durante anos a Boate Divine ganhou som, música e iluminação pelas mãos do seu talentoso e experiente Dj Elias Arrais,que não só fazia a festa com as mais badaladas do momento, como também fazia questão de usar seu microfone para anunciar clientes, drags, e novas “montações” na casa.
Elias que foi o Dj residente até o fechamento da casa, era amigo de todos, simpático, adorava trocadilhos, e interagia com as apresentadoras no palco, sempre com um dance "tribal gostoso", que só se escutava lá na Divine, Elias foi uma das peças fundamentais na casa.
Como falar de Divine e também não lembrar de Lena Oxa, a apresentadora e jornalista que comandou a casa até meados de 2007, e aos cuidados dela, vieram concursos e festas que se perpetuaram na casa até o fechamento, “HALLOWEEN, THE BEST OF DRAG, TOP DRAG DIVINE.” Lena também ficou conhecida por valorizar aarte o talento impecável nos palcos, dando oportunidade as artistas, e começando o projeto Divas, com especial de primeira para o palco da boate, ela também trazia atrações nacionais, como Nany People, Leo Áquila e Silvetty Montila. Ao deixar a Divine, Lena foi para a televisão e expandiu a sua voz para toda família cearense sendo a primeira travesti a apresentar um programa de tv no Ceará, e sendo a pioneira no Brasil.
Satyne Haddukan, Adma Shiva, SarahSaron, Tatiana Hilux, Tablata Flitlerman, Flávia Fontenelle, Laylah Sah,Camilly Leycker, Hairam Manzon, e tantas outras estrelas continuaram abrilhantando os palcos até o encerramento definitivo da casa, Condessa Mirelle Blanche ( in memorian) tocou a direção da casa até o fim, e o gerente Beto (in memorian) , que já havia comando duas casas de sucesso anteriormente, a DREAMS e a JOY marcado e eternizado na casa, deu nome ao palco após sua partida, quem não lembra das alegrias, sorrisos e carinho que ele tinha com o público, mas ao passar por problemas de saúde,afastou-se da boate por um tempo, deixando o comando do gerente William, outra figura maravilhosa da casa, Beto retornou após recuperar-se, e assumiu a gerência até Junho de 2014, meses antes do fechamento, até seu falecimento, quando Paola Bracho assumiu a gerência até o fim definitivo em 31 de Dezembro de 2014.
Falar da Divine dá um livro, até porque, quantas histórias, memórias, artistas, e pessoas foram felizes ali? Quanta gente se descobriu, se encontrou, encontrou amores vividos até hoje,marcou uma resenha de aniversário, saiu para “tomar todas” ou esquecer seus problemas familiares, a Divine era uma boate simples, de valor acessível, porém foi o encontro de todas as cores, raças, tribos e classes sociais, por mais finas que elas fossem, era no “domingão” e no “pagodão” que elas se jogavam.
Após o dia 31 de dezembro de 2014, um silêncio, e um comunicado dos donos, a “casa entraria em recesso” coisa que nunca houve em 14 anos, “ A casa entraria em reforma”, silêncio pairou e em 7 de Janeiro de 2015, o letreiro Neon mais lindo da cidade se apagava definitivamente, o local, por um tempo ficou disponível para locação, porém foi vendido, e posteriormente derrubado para dar lugar a mais um estacionamento na cidade que não preserva sua memória cultural.
Segundo funcionários, o prédio já havia sido pedido várias vezes, ações eram movidas na justiça, e ao lado, um família de crentes, quem frequentava o “LE QUINTAL” famoso terraço onde tocava aswingueira e samba, e aconteciam os shows dos strippers “gatos da condessa” podia ler uma frase enorme no muro falando que “JESUS ERA A SALVAÇÃO” uma maneira que os crentes encontraram de afrontar aquele pedaço, que não era residencial,porém promovia movimento ao centro aos fins de semana. E agora, onde aconteceriam os shows? Onde as artistas iriam brilhar? Que palco seria novamente construído para acolher a arte e cultura Drag, no momento que a Divine fechou e baixaram-se as portas e as cortinas, grandes dúvidas pairaram sobre toda população LGBTQIAPN+ da época, e por um bom tempo, ficamos sem um “lugarzinho só nosso” que pudéssemos ser livres, até a chegada de outras casas, movimentos,e eventos.
Mas, isso é assunto para umasegunda parte. Divine deixou história e marcou o coração de muita gente,inclusive desse jornalista que vos escreve.
Confira vídeo especial na íntegrado último halloween, e matérias exclusivas nesse mês de Janeiro, onde a Diva completaria 25 anos.
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